Falando de Viagem entrevista: Haroldo Castro sobre a Etiópia

Entrevista do Falando de Viagem.
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falandodeviagem Mensagens: 19836 Administrador
Ter Jan 12, 2016 8:28 am
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Haroldo Castro com Teodros, um nativo da etnia Mursi, no vale do rio Omo.

A Etiópia é praticamente desconhecida pelos turistas brasileiros. Poucos sabem que a maior parte do país é formada por montanhas e planaltos e que a capital Addis Ababa está a 2.400 metros de altitude. A antiga Abissínia resistiu à partilha da África realizada pelos europeus e jamais foi colonizada, embora os italianos tenham tomado parte do país durante a Segunda Guerra Mundial. Os etíopes orgulham-se de viver no mais antigo país independente do continente.

O Falando de Viagem convidou o fotógrafo, jornalista e viajante Haroldo Castro para compartilhar suas impressões. Haroldo organiza expedições fotográficas a destinos exóticos, documentou 165 países no mundo e esteve seis vezes na Etiópia. Durante sua jornada “Luzes da África” em 2010, rodou 5.800 quilômetros no país em quase um mês. Em seu livro “Luzes da África” (Ed. Civilização Brasileira, 2012, 574 páginas), três capítulos relatam sua passagem pela Etiópia.

1 – Quando visitou o país pela primeira vez?

Fui à Etiópia pela primeira vez em 1983 para fotografar uma festa religiosa em Lalibela. Foi uma surpresa muito grande. Eu não acreditava no que estava vendo: aquelas igrejas esculpidas na rocha, cheias de vida, com fiéis e sacerdotes dançando e cantando como se todos estivessem vivendo há oito séculos. Adorei fotografar o festival. O editor da revista GEO francesa ficou tão fascinado que publicou generosamente meu material.

2 – O que mais lhe encanta no país?

O mais fascinante é a autenticidade. As pessoas são extremamente gentis e acolhedoras – e muito honestas. Nunca tive um problema de segurança em nenhuma cidade ou vilarejo. Considero que, em termos artísticos, culturais e espirituais, a Etiópia é uma das nações mais ricas do planeta.

3 – Quando falamos em Etiópia, logo pensamos na extrema pobreza. O que as pessoas que não conhecem o país precisam saber?

Em 1984, parte do país foi vítima de uma grande fome devido a uma seca significativa e a disputas políticas internas. Esse retrato de miséria persiste até hoje. Precisamos mudar essa imagem que desonra e mancha o país e o povo. Nas últimas três décadas, houve muitas mudanças positivas: o governo tornou-se mais estável e, desde aquela época, não aconteceu nenhum outro flagelo humano. A Etiópia de hoje possui o PIB de maior crescimento na África – 10,3% em 2014 – e o terceiro no mundo. De 2011 a 2014, o PIB aumentou em 31,6%. O país todo está sendo reformulado e reconstruído. Está no bom caminho e é motivo de admiração de muitos países africanos.

4 – A infraestrutura turística também melhorou?

Com tantos tesouros culturais, o país passou a investir no turismo estrangeiro, principalmente no europeu, que aprecia a riqueza das tradições. Hotéis mais confortáveis foram construídos e novas estradas estão sendo asfaltadas. Os voos internos da Ethiopian Airlines são de pontualidade britânica. Tudo isso ajuda a que uma viagem aconteça sem perturbações.

5 – Qual é o lugar imperdível no país?

Lalibela, com suas 11 igrejas ortodoxas esculpidas na pedra, representa a essência do país. Durante a semana da Páscoa ortodoxa, os festejos são espetaculares. Neste ano, a Sexta-feira Santa cairá, no calendário local, em 29 de abril. Assim, na Sexta da Paixão e no Sábado de Aleluia, estarei em Lalibela para ver e fotografar procissões, vigílias, cânticos e danças. Essa será minha quarta Páscoa em Lalibela e já sei exatamente quando e onde acontecem as cenas mais fotogênicas da festa. É a vantagem de ser um viajante fotógrafo.

6 – Além de Lalibela, quais são os outros lugares que você recomenda?

Conhecer as montanhas Simien é imperdível. Lá encontramos os macacos Geladas que vivem nas alturas, os únicos primatas que pastam. São totalmente vegetarianos e pacíficos. Os mosteiros do lago Tana, com seus murais pintados, e os castelos medievais de Gondar também são fascinantes. Todos esses lugares estão no norte do país. No sul, a experiência memorável é a visita às etnias tradicionais no vale do rio Omo.

7 – O país é seguro? Inclusive para mulheres, por exemplo, que queiram conhecer?

O país, apesar de estar em uma região conturbada, é muito seguro. Suas fronteiras são altamente protegidas e os controles em aeroportos e nas estradas podem ser longos, mas garantem nossa segurança. A melhor maneira para viajar com tranquilidade, principalmente para mulheres, é participar de um pequeno grupo. Nas minhas jornadas, de cada quatro viajantes, três são mulheres.

8 – O que você não recomenda que um turista faça em visita ao país?

Se o turista não fala o idioma oficial amárico e nem sabe ler o alfabeto, recomendo que não viaje sozinho, tipo mochileiro independente, pois poucas pessoas falam inglês, principalmente no interior. Mas, mesmo se ele poderá se perder facilmente, certamente não corre perigo de vida.

9 – Existe algum prato típico na Etiópia?

Mais do que um prato típico, existe um cereal que só existe nas montanhas da Etiópia. Extremamente rico em ferro, o “tef” é usado para preparar uma panqueca, a “injira”, sobre a qual os etíopes colocam seus ensopados de verduras e carnes. Comer esse prato típico, com ou sem pimenta, é uma experiência fundamental.

10 – Quantos dias você considera suficientes para conhecer a Etiópia?

Para conhecer a capital Addis Ababa e os locais mais importantes no norte do país são necessárias duas semanas. Eu adicionaria mais uma semana para conhecer o sul.

11 – Qual é a melhor época do ano para viajar ao destino?

Acho que conhecer um país em festa sempre traz um elemento adicional. Os habitantes locais usam suas roupas mais elegantes, saem da rotina do cotidiano e estão mais felizes. A Páscoa é um momento essencial para os cristãos ortodoxos etíopes. Assim, considero que abril é uma excelente época para visitar o país. O clima também é bom.

12 – Em abril você viajará para Etiópia com um grupo de viajantes. Como funciona a viagem?

Essa será a terceira edição de uma viagem que realizamos em 2014 e em 2015 com muito sucesso. Durante duas semanas viajaremos pelo norte, passando pelos lugares principais que já mencionei. Alguns trajetos serão em voos domésticos e outros, como ao Parque Nacional das Montanhas Simien, em van. O grupo precisa ser pequeno, com um mínimo de seis viajantes e um máximo de 12.

A Parte Terrestre tem o custo de 5.995 dólares por pessoa e inclui a hospedagem (em habitação dupla), todas as três refeições diárias, transporte local e entradas a todos museus, monumentos, igrejas e parques nacionais. Oferecemos descontos para alguns casos específicos, como casais.

Haverá também uma extensão opcional de uma semana ao vale do rio Omo para visitar os mercados semanais e as etnias tradicionais do sul. Essa parte, toda em 4x4, é reservada a viajantes mais experientes.

A Parte Aérea, ida e volta de São Paulo a Addis Ababa pela Ethiopian Airlines, tem o custo de 1.905 dólares (mais taxas). Os trechos domésticos comprados diretamente com a Ethiopian Airlines gozam de um desconto de 60% e custam apenas 291 dólares (mais taxas). Os bilhetes aéreos podem ser pagos em até cinco vezes com cartão de crédito.

13 – Quais os contatos para quem deseja fazer uma viagem exótica com você?

O mais importante é que os interessados visitem o site VIAJOLOGIA EXPEDIÇÕES e leiam com atenção a página Etiópia 2016 para saber se o itinerário é apropriado para eles. Depois, o viajante deverá entrar em contato comigo para marcarmos uma conversa para trocarmos ideias. Preciso avisar de viva voz que essa jornada não é para quem pretende fazer compras em Miami e Nova York ou curtir a noite em Londres e Paris. É uma viagem para adquirir conhecimento e viver experiências únicas!

Vamos ver algumas fotos?

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Os murais pintados no século XV do mosteiro Ura Kidane Mehret, Lago Tana.

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Um macho e uma fêmea Gelada na beira do penhasco onde vivem, Parque Nacional Montanhas de Simien.

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Um macho Gelada pasta tranquilamente, Parque Nacional Montanhas de Simien.

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Castelos medievais da dinastia Fasilidas, em Gondar.

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Teto pintado com uma centena de anjos da igreja Debre Berhan Selassie, Gondar.

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Noite de vigília na igreja de São Jorge, uma das 11 esculpidas na pedra, em Lalibela.

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Na Sexta-feira Santa, os tesouros da igreja Santa Maria são mostrados aos fiéis, Lalibela.

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Jovem da etnia Mursi no vilarejo Elma, vale do rio Omo, sul da Etiópia.

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Dois meninos da etnia Karo, com seus corpos pintados, no vilarejo Kolcho, vale do rio Omo.

Obrigado pela entrevista, Haroldo!
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Patricia Mensagens: 2384
Ter Jan 12, 2016 8:40 am
Fantástico! Já tive vontade de conhecer a Etiópia, principalmente aquelas comunidades mais isoladas. Já até perguntei para duas mulheres que estiveram lá e elas falaram que só em grupos com guias mesmo (por segurança), e que por mais se seja bem pobre, é ao mesmo tempo um país muito bonito! Ahhh e que é possível fazer uma viagem de luxo no país, algo que nem imaginava.

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GabrielDias Mensagens: 41746
Ter Jan 12, 2016 8:40 am
Fascinante! Conheço muito pouco de lá, mas pela entrevista e pelas fotos fiquei bem interessado em conhecer. Cada vez mais tenho buscado destinos diferentes, pois viajar é muito mais do que ir aos Estados Unidos e Europa.

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JulianaMagalhaes Mensagens: 6026
Ter Jan 12, 2016 8:53 am
Acabei de descobrir que eu não sabia NADA sobre a Etiópia!

Achei fascinante e o Haroldo colocou emoção nos relatos! Muito legal mesmo e fotos lindas!

Vou conversar com o marido! Tenho muita vontade de conhecer melhor a África!

AndBrag Mensagens: 281
Ter Jan 12, 2016 9:18 am
Sempre fui fascinado pela Etiópia, sempre soube da sua cultura completamente sem igual, inclusive considerada por antropólogos como uma ilha cultural, ou seja, em pouco se parece com os países vizinhos na cultura e língua, que tem alfabeto próprio, ou seja, um país único como nenhum outro. As coisas que vemos por lá, as igrejas de pedra, os murais, o povo alegre, nada tem igual.

Agora não sabia quando ir para lá e como viajar lá, pois sabia que o inglês é incomum e que não se fala a língua de seus colonizadores, os italianos. Gostei da viagem em grupo, mas tá caro por enquanto. Quando o dólar cair vou procurar saber.

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baran Mensagens: 10215
Ter Jan 12, 2016 9:47 am
Fascinante! Conheço o blog do Haroldo Castro e quando vi que a entrevista era com ele fiquei empolgado!

A Etiópia é berço do alimento mais importante do universo, o café. :D

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Fabio Mensagens: 8900
Ter Jan 12, 2016 11:26 am
Fascinante. Aprendi muito sobre a Etiopia.

Ja viajei com o Haroldo e ele realmente eh um entusiasta do continente africano.

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zardox Mensagens: 11619
Ter Jan 12, 2016 1:36 pm
Caraca...
As fotos são lindíssimas...
A primeira, do mural, parece que vai pular para fora da tela...
Parabéns pelas fotos e pelo seu trabalho...
E, mais uma vez, FDV dando banho de divulgação de locais turísticos...
Acho que não dá mais para pedir para o FDV ser declarado de "utilidade pública"...
Pelo visto alçou à categoria de "Patrimônio Imaterial da Humanidade"...
Trabalho de equipe de primeira.... ;)

Adriana Mensagens: 2231
Qua Jan 13, 2016 5:46 am
Ótima entrevista e lindas fotos.
Eu li um livro que se passava na Etiópia, inclusive uma passagem falava sobre a Páscoa. Desde então fiquei bem curiosa sobre o país, mas a questão da segurança, não me deixou segura para fazer planos de visitá-lo.
Fico feliz em saber que o país está se desenvolvendo bem e quem sabe no futuro entre em meus planos de viagem.

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zardox Mensagens: 11619
Qua Jan 13, 2016 6:30 am
É Adriana...
Nestes tempos estamos perdendo a possibilidade de conhecer países maravilhosos por conta de guerras étnicas e religiosas... este ódio entre xiitas e sunitas e outras franquias da Mulçumano & Cia., o ódio entre judeus e palestinos/árabes,árabes/cristãos... a luta política das facções e tudo isso devidamente semeado e regado à sangue pelas grandes potências (Rússia/China/EUA/França/Alemanha etc)... tudo isso tem levado estes locais a barbáries, causando imenso sofrimento nos inocentes e afastando riquezas que poderiam advir do turismo...condenam o atual e amanhã dos povos.. voltam no tempo em termos de evolução....
É uma imensa pena... é um tempo que não se recupera.......
Eu tinha muito vontade de ir com minha família a estes locais... mas, vai ficando só na vontade...
Cada vez mais vamos diminuindo nossas possibilidades de destinos...





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