O Falando de Viagem cobre o universo do turismo há 10 anos, ajudando você a e entender e programar todas as etapas das suas férias. Neste momento de pandemia, não seria diferente. Como o setor foi um dos maiores afetados, o FDV continua a fornecer informações para aqueles que tiveram suas viagens canceladas ou adiadas. Entretanto, como o responsável por este contexto é um assunto de saúde, dessa vez, não temos autoridade para afirmar sobre tudo. Para isso, convidamos o médico imunologista Marcello Bossois para tirar algumas das principais dúvidas sobre a Covid-19 versus viagens.
Bossois participa do grupo de pesquisa do cientista canadense Jacques Tremblay, professor do Departamento de Medicina Molecular da Universidade de Laval e pesquisador do Centro Hospitalar da Universidade de Laval, no Quebec. Os esforços do grupo são para ampliar métodos de detecção rápida da Covid-19, pois acreditam que esta é uma forma mais eficaz de conter a pandemia do que a espera por uma vacina (que deve demorar de um a dois anos). Você pode ler mais sobre a pesquisa clicando aqui.
"O momento agora é o de entender que saúde não é gasto, saúde é investimento. O pesquisador é quem deve ter o teto de salário na nossa sociedade, por que é ele que vai manter a humanidade viva. O que vai salvar a economia, o comércio e o turismo é o pesquisador. Investimento em pesquisa é também sobrevivência econômica. Se os pesquisadores fossem a elite do nosso país, tudo isso seria diferente. A próxima epidemia pode extinguir a humanidade se não abrirem os cofres para os pesquisadores", explica Bossois.
Como o setor do turismo pode colaborador com o combate do coronavírus?
MB: "A minha opinião principal nesse momento é que os hotéis devem se disponibilizar e ceder o espaço para leitos hospitalares. Isso já está começando a acontecer no Brasil, mas deve se tornar generalizado. É uma forma sábia do setor de turismo lidar com o quadro atual".
Neste momento, é seguro viajar para lugares que não registraram ou estão com pouquíssimos registros de infectados?
MB: "Além da doença em si, a pessoa que se arriscar a viajar neste momento pode não conseguir voltar para casa, já que as fronteiras podem ser fechadas a qualquer momento.
Fora que o vírus demora em média 14 dias para se manifestar. Então a própria pessoa pode apresentar os sintomas durante a viagem e infectar o pessoal do local, e isso é um absurdo. Uma pessoa que viaja quer aproveitar, quer relaxar, e isso não é possível no momento".
Quando os casos forem controlados, tudo imediatamente vai voltar à normalidade e vamos poder viajar?
Na China, por exemplo, os números já demonstram melhoras. Entretanto, como os últimos casos registrados são frutos de contágios externos, as fronteiras se mantém fechadas.
MB: "Naturalmente, após uma pandemia, após a liberação de uma quarentena, voltam a ter novos casos. Muita gente em quarentena está com o vírus encubado. Agora temos que observar se vai ter uma nova epidemia na China. Se a China está fazendo isso [manter as fronteiras fechadas], é por prevenção.
No momento, têm muitos artigos científicos sendo liberados a respeito de pessoas que não estão conseguindo desenvolver imunidade contra o vírus e estão se re-infectando pelo mesmo vírus. Isso não é um consenso internacional na comunidade científica, ainda está sendo estudado, é importante deixar claro. Mas são informações pontuais que devem ser observadas. Outros estudos são sobre infecções de vírus diferentes. Existe uma suspeita de que o vírus pode estar sofrendo mutações. Novamente, ainda não é um consenso".
Quando a pandemia acabar, você acredita que países podem impor restrições de entrada a cidadãos dos países com maior número de contágio?
MB: "Eu acho que não. A questão é geral. A doença pode se manifestar com diferentes comportamentos de acordo com a geografia e hábitos culturais, mas o mal é igual para todo mundo. Essa epidemia foi muito democrática. Ela não faz distinção de classe social ou raça, só de idade".
Quais cuidados serão necessários quando voltarmos a viajar?
Além de higiene básica, claro.
MB: "O que vai salvar a economia mundial e vai fazer com que as pessoas voltem a viajar são as técnicas diagnósticas rápidas. A CRISPR é uma tecnologia que já se mostrou eficaz e que apresenta o diagnóstico em horas. A ideia é testar todos. Apresentou resultado negativo? Pode viajar, trabalhar, viver sua vida. Positivo? Não pode, vai ficar em quarentena obrigatória. Você chegaria no aeroporto e faria o teste da mesma forma que precisa apresentar passaporte e visto para embarcar. Eu acho que é a forma mais segura. Porque mesmo se a imunidade para quem foi infectado seja comprovado, a pessoa está sempre suscetível a ser infectada pelas mutações".