Se você planeja ir à Provence, no sul da França, é bom ter em mente duas prioridades. A primeira: vá entre meados de junho e agosto, pois é a época da floração das lavandas. A segunda: alugue um carro para ter total independência.
Alugamos nosso carro em Montpellier (onde você pode chegar via avião ou TGV desde Paris) e de lá partimos em direção a Aix-en-Provence. São 154 km que separam as duas cidades e, viajando pelas autoestradas, o trajeto durou menos de duas horas.
Aix-en-Provence foi nosso pouso na Provence. Alugamos um studio próximo ao centro, o que se revelou uma opção ao mesmo tempo econômica e confortável, e de lá partíamos para outras cidades e vilarejos na região. Aix conta com um centro histórico preservado, ótimos restaurantes e lojas de grife. Uma verdadeira joia na região. Dedicamos o final da tarde do primeiro dia de viagem para conhecer um pouco da cidade e jantarmos no Cours Mirabeau, belíssima rua margeada por árvores e restaurantes e que conta com duas fontes.
O segundo dia se concentrou, principalmente, no roteiro das lavandas. Saímos de Aix em direção a Valensole privilegiando as estradas departamentais, que cortam as cidades e vilarejos, em vez de pegarmos a autoestrada. A viagem durou cerca de uma hora, e percorremos 67 km.
Já chegando a Valensole tem-se o enorme presente de vislumbrar campos de lavandas na beira da estrada. A vontade de parar o carro é imediata e prontamente atendida quando estacionamos no acostamento (como todos) para fotografar, admirar e sentir o cheiro refrescante e relaxante destas pequenas flores lilases.
A viagem continuou por mais 32 km, ou 30 minutos, até o encantador vilarejo de Moustiers-Sainte-Marie, considerado um dos mais bonitos da França. A diminuta cidade de apenas 700 habitantes e que vive do turismo está encaixada entre as rochas e conta com pontes, casas e ruelas antigas, um rio com pequenas quedas d’água que corta a cidade e uma igreja, a Notre-Dame de Beauvoir, a que se chega por um caminho ascendente de pedras.
O local, que já foi destino de peregrinos desde o século V, possui muitos restaurantes, alguns hotéis e diversas lojinhas, principalmente de objetos de porcelana. Os habitantes mostram orgulhosos a origem da porcelana grafada no verso de pratos e tigelas com o nome da cidade. Atestado de qualidade.
Moustiers foi, inclusive, o local onde almoçamos uma deliciosa salada com queijo de cabra e vinho, antes de darmos continuidade à viagem seguindo até o lago de Sainte-Croix, avistado já desde a igreja de Moustiers.
O lago, na verdade uma represa, se situa entre as Gorges du Verdon – enormes encostas de rocha que ladeiam o rio Verdon neste parque regional. Ás margens do lago você encontra onde estacionar e também locadoras de pedalinhos e caiaques. Alugamos um caiaque duplo por duas horas e achamos que foi tempo o suficiente para remarmos pelas Gorges rio acima. Um passeio tranquilo e cheio, pois franceses, japoneses, italianos e nacionalidades diversas fazem o mesmo com muita alegria, seja em casal, família, amigos ou com seus cachorros!
Depois seguimos para Aiguines, pequeno vilarejo na outra margem do lago, cruzando a Pont Du Galetas e subindo por pequenas estradas. Em Aiguines, todas as casas e estabelecimentos estão voltados para o lago de Sainte-Croix, inclusive um castelo muito interessante, mas fechado à visitação por tratar-se de propriedade particular. A cidade possui alguns restaurantes e bares de tapas, e foi onde terminou nosso dia, pois após um delicioso jantar, retornamos a Aix-en-Provence.
O dia seguinte foi reservado a duas cidadezinhas bem próximas uma da outra, no vale do Luberon, mas com características bem diversas: Gordes e Roussillon. Gordes está a 70 km de Aix-en-Provence e a distância que a separa de Roussillon é de apenas 10 km.
Gordes é um vilarejo inteiramente de pedras brancas, construído no topo de um morro. O local – assim como os demais visitados – parece ter parado no tempo. A igreja e o castelo são renascentistas e, se você tiver a oportunidade de ir lá dia de semana, é provável que se depare com uma daquelas feiras tradicionais da Provence.
Saindo de Gordes, tem-se a opção de visitar a Abbaye de Sénanque, um dos cartões postais mais conhecidos no que diz respeito a campos de lavandas. Como elas estavam em flor, foi mais uma pausa para fotografar e se deliciar com seu aroma.
Roussillon, que também se encontra num morro, é um vilarejo ocre, pois todas as construções são nesse material natural, extraído da região. Lá, é possível percorrer um caminho traçado por dentro das minas de ocre e se impressionar com suas tonalidades de vermelho e alaranjado em contraste com o verde das árvores.
Ambos os vilarejos são bem pequenos, e recomendo optar por almoçar em Gordes, que conta com uma seleção aparentemente maior de restaurantes.
No terceiro e último dia na Provence, descemos até a costa do Mediterrâneo, para a cidade de Cassis. O poeta provençal Frédéric Mistral, prêmio Nobel de Literatura em 1904, sentenciou que aquele que viu Paris, mas não Cassis, pode dizer que não viu nada. Sem dúvida o sul da França é imperdível, a região da Provence é charmosa e belíssima, e Cassis é simplesmente uma joia.
Saindo de Aix, levamos cerca de uma hora até a cidade. É importante chegar cedo se você precisa achar uma vaga. Deixamos o carro num estacionamento numa ladeira próxima ao Port de Cassis. Caminhamos até o porto, com seus inúmeros barcos de passeio, de pesca ou veleiros. No porto há diversos restaurantes lado a lado e grande parte oferece pratos com frutos do mar.
Após uma volta pelo porto, decidimos caminhar até as Calanques – enormes falésias de calcário típicas da região de Marseille. É possível chegar até o ponto de partida para a caminhada pelas Calanques de carro. Inclusive, lá há um estacionamento e alguns restaurantes, mas preferimos caminhar para ver as casas e passar pelas praias. Levamos uns 20 minutos.
Outra opção para apreciar as Calanques é fazer um passeio de barco desde o Port de Cassis, mas os passeios não incluem paradas nas praias – vê-se tudo de longe apenas.
Em Cassis há três calanques para se conhecer: Port Miou, Port Pin e En Veau. Port Miou é a porta de entrada e é uma longa baía margeada de veleiros, e onde é possível alugar caiaques. Em Port Pin é possível se chegar em apenas 30 minutos andando até mesmo de chinelo, ainda que um sapato fechado seja mais recomendável. Para En Veau é necessário um pouco mais de planejamento: tênis ou botas de caminhada, água e lanche, pois a trilha é um pouco mais longa (cerca de 1h30). Como não estávamos preparadas e, além disso, queríamos aproveitar a tarde no mar e na praia, fomos apenas até Port Pin.
O lugar é mágico: uma praia de pedras (lá não há areia), águas cristalinas e calmas naquele tom de azul mediterrâneo e pedras brancas. Vale a pena levar máscara e snorkel para aqueles que gostam de ver as maravilhas do fundo do mar.
Depois de horas de mergulhos, braçadas no mar e muito sol nas pedras, voltamos até o porto de Cassis, onde almoçamos já um pouco tarde. De lá, pegamos o carro e voltamos a Montpellier, a princípio, por estradas na costa, de onde se tem vistas maravilhosas do Mediterrâneo. A viagem de volta foi um pouco mais longa: 202 km em cerca de duas horas.
Como no verão os dias são longuíssimos (só começa a anoitecer por volta das 22h), foi possível aproveitar muito os dias e só pegar as estradas lá para 20h. Foram quatro dias intensos e plenos de paisagens inesquecíveis – certamente algumas das mais bonitas que já tinha visto.
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Boa viagem!
Texto e fotos: Julia Rebuzzi.
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